quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ser mulher já é complicado, moderna então!

Ao me deparar escrevendo este texto percebi que até mesmo eu sou preconceituosa, tendo em vista que até então nunca tinha pensado na luta feminina como um exemplo de superação. Já chorei em filmes sobre a tortura dos judeus e cheguei a ficar feliz em perceber que muito mudou até hoje para os mesmos. Li coisas horrendas sobre escravidão de negros e índios nas Américas, “vivenciei” lutas étnicas e sociais através dos meios de comunicação e me abalei profundamente com as torturas e injustiças que ocorreram ao longo dos últimos séculos. Mas, nunca tinha percebido por um âmbito curioso, explorador, piedoso e crítico a luta feminina pelo direito à igualdade.
Sinto- me envergonhada quando noto que depois de muitos anos de luta existem mulheres que se prendem ao costume machista que o mundo impôs perante à postura feminina em todo mundo. A “coisa” da submissão é antiguíssima e cômoda para muitas mulheres. É incrível como uma redoma de pensamentos comuns me cegaram perante tamanha beleza e tamanhas injustiças.
Tudo bem que as lutas já passaram e que cada uma delas deixou na sociedade uma mostra da importância da igualdade de gêneros. Tudo bem, que eu não convivi e nem vivi uma luta como a de Joana D’Arque, mas, hoje em frente ao computador, deitada na minha aconchegante cama depois de um festivo, surpreendente, assustador e confuso fim de semana - casamento de mais uma amiga de infância, ou seja, encontro com todas as amigas já casadas e eu, uma das poucas solteiras -, penso no quanto esta mulher sofreu e o quanto eu (uma jovem acadêmica de jornalismo que busca sonhos que já fazem parte da audácia da mulher moderna) fui injusta e cruel por nunca ter derramado uma lágrima por isto.
Ícones como Joana D’Arque, Anita Garibalde, as muitas mulheres que morreram na fábrica de tecidos, as inúmeras que queimaram sutiãs, as que revolucionaram o mercado de trabalho, as muitas que foram pioneiras em várias áreas que hoje dominamos não têm de minha pessoa o agradecimento e o prestígio que deveriam ter.
Falando em prestígio, as mulheres que eu muito preso, não são tão famosas como Joana, Anita e nem marcaram a história da revolução social e econômica que é o movimento feminista, mas marcaram a minha vida pela existência e a exemplo delas que hoje chego à conclusão que esta luta é uma das mais antigas, mais fundamentadas e menos valorizadas da história. A minha avó, a minha mãe e minhas tias, são mulheres que me ensinaram a ser forte, a não desistir de objetivos e aceitar que vivo em uma sociedade preconceituosa, machista, mas que vem quebrando barreiras.
Contudo, voltando à análise da minha atitude até então, percebi que foi preciso ser estimulada a escrever sobre algo que eu mesma não aceitava, que em pleno século XXI ainda há preconceitos absurdos à aceitação da mulher no mercado. Há um índice alto de desemprego feminino, há uma falta de respeito quanto aos salários diferenciados pagos para as mulheres que exercem o mesmo cargo que os homens, uma mistificação ainda persistente de que a mulher é um ser reprodutor, sedutor e cuidadoso.
Concordo que mulher é tudo isso, mas não é só isto! A mulher vem mostrando capacidade para enfrentar o mercado de trabalho e tornar-se independente, sem precisar deixar de ser mãe, ícone de beleza e pureza, dona de casa, esposa. “O medo dos homens é perder o posto no trabalho ou perder a submissa em casa?” Esta pergunta ‘grita’ na minha cabeça. Penso eu que são as duas coisas, os homens não são no geral ruins, é que a sociedade já impregnou neles a responsabilidade de comandar e a mulher somente acompanhar.
Retornando ao fato de minhas amigas de infância terem sido mães e se casarem cedo, sem terminar o curso superior, me remete a perceber dentro de mim as dúvidas cruéis que as mulheres modernas enfrentam. Escrevendo estas tão confusas linhas, percebo que minhas dúvidas me dão uma certa inveja delas e ao mesmo tempo um alívio.
Certa de ter orgulho próprio, de alcançar o desejado e planejado, o alívio me invade o peito dando-me a certeza de que estou fazendo a luta por merecer, buscando independência, capacidade profissional e me dando a oportunidade de escolher viver o gostinho do resultado de tantas lutas feministas. Em contrapartida, meu peito se enche de inveja, uma inveja boa, uma inveja que se da não pela vontade de viver o que elas estão vivendo, mas uma inveja fundamentada em embasamentos teóricos culturais que impregnou que toda mulher veio ao mundo para ser de alguém e procriar.
O meu lado mulher de ser, estagnado perante estas situações, sabe que há uma hora certa para cada coisa e não quer ter medo de ser rejeitada por decidir quebra tabus e surpreender, abdicando de um lado feminino de ser e nem quer ser rejeitada por ser ainda romântica.
A luta feminista quebrou barreiras extremas e de fundamental importância para chegar onde estamos, mas ainda não conseguiu vencer a luta maior que é a conscientização que a mulher livre e moderna pertence a mesma mulher encasulada e romântica. A aceitação, o respeito e o entendimento de que a conciliação é o caminho para quebrar o mais feio dos preconceitos, o preconceito próprio.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pensameto de uma "grande" escritora...Lya Luft

Só p não ficar sem postar nada hoje vai aí uma frase de Lya Luft...Amanhã mais um artigo, aguardem!

A maturidade me permite olhar com menos ilusão, aceitar com menos sofrimento, entendr com mais tranquilidade e querer com mais doçura.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Legalização do Aborto - Briga de “cachorro grande”

Por: Najara Barros
Há 70 anos, não existia pílula anticoncepcional, as brasileiras tinham em média sete filhos e somente 15% das mulheres trabalhavam. A mulher era vista somente como “dona do lar”, não se falava em igualdade de direitos, muito menos em aborto. Esse discurso só se fortaleceu depois da década de 1960, com a revolução feminista. Entretanto, o direito ao aborto foi inserido no Código Penal Brasileiro de 1940, pelo então ministro da Justiça do Estado Novo, Francisco Campos.
O artigo 128, do capítulo que trata dos crimes contra a vida, do Código Penal de 1940, concedia às mulheres o direito de aborto em duas situações: para assegurar a vida da gestante e caso a gestação fosse fruto de estupro, desde que houvesse consentimento da gestante ou de seu representante legal. Este dispositivo demorou 57 anos para ser regulamentado pela Câmara Federal, quando em 1997, por diferença de um voto, o aborto previsto no Código Penal pôde começar a ser realizado em todos os hospitais públicos ou privados.
Atualmente, quando se discute legalização do aborto no Brasil, não se debate somente questões legais, religiosas, morais, mas também um problema social. Uma pesquisa de opinião pública feita pelo IBOPE em 2007 revela que nesse assunto o Brasil possui dois mundos de mulheres. O primeiro povoado por aquelas que acreditam que legalizar o aborto transpassa qualquer discussão, chegando a ser questão de democracia. O segundo por aquelas que aceitam o aborto somente quando se trata da preservação da vida da genitora e afirmam que a legalização é uma questão ética.
A decisão individual, privada, reservada, antes escondida, invadiu a esfera pública. Discute-se em rodas de amigos, em salas de aula, em fóruns, em Igrejas, na Câmara, no Senado e atualmente faz parte da discussão de plataforma política de campanha à presidência nacional.
O que faz desse tema ser uma decisão pública é porque este assunto envolve dilemas morais insolúveis, como por exemplo: em que momento da concepção surge a vida, ou em que momento ocorre a morte? Entretanto, o pivô central desta discussão é a rivalidade de concentração de poder manipulatório existente entre Estado e Igreja. Onde cada um dos lados é severamente convincente, e que se baseiam em motivos que transpassam a democracia, baseando-se na ética, moral e cultura de um povo.
Convenhamos que é direto da mulher (cristã ou não) decidir o que fazer com seu corpo, só que a decisão por liberar o aborto em um Estado com população 80% cristã, foge ao pensamento feminista e se abre em um leque de opiniões e princípios. E o que se comprova é que mesmo com ideologias políticas e crenças, 59% dos cristãos brasileiros são contra a prática do aborto, mas a favor de sua legalização, conforme dados do IBOPE.
Essas opiniões demonstram o quanto o povo é mais consciente do que os dois poderes (Estado e Igreja) sobre a existência de um problema social que é a morte de milhões de brasileiras causadas por abortos clandestinos. O problema maior é que enquanto as autoridades regularmente constituídas não resolvem nada, o tema se transforma em briga política, aumenta a venda ilegal de remédios que provocam abortos e cresce o número de mulheres mortas por “açougueiros” de clínicas clandestinas que prestam estes serviços.
Um assunto que deveria ser debatido de forma igualitária e humana, deixando de lado a rivalidade entre Estado e Igreja, entre políticos liberais e conservadores, é hoje algo de que é preferível não falar, não opinar, não se portar nem contra nem a favor.
O que não se entende, ou não se quer entender, é que este é um assunto que não se deve tratar de contra ou a favor, trata-se de conscientização do que deve ser feito. Afinal de contas ser mãe não é só pôr uma criança no mundo, é dar a esta criança, além do direito à vida, o direito à educação, saúde, moradia, afeto familiar. Dar a ela uma vida digna. E quem garante isso às mamães e às futuras crianças? Um Estado hipócrita onde as autoridades ocultam opiniões polêmicas para não perder voto, não perder apoio político - e não me refiro somente a Dilma e ao Serra - mesmo sabendo o quão é importante debater e solucionar este crescente problema social ou a Igreja que dos seus altares ou púlpitos olham seus fiéis e seguidores de cima para baixo, sem levar em conta o caos social que certas atitudes e opiniões influenciam?
Não se pode abortar posições. As autoridades precisam tirar as máscaras e discutir o assunto de cara limpa. O problema precisa ser resolvido e não varrido para debaixo do tapete.